Esse texto tem relação com o Equívoco 1 - O esperanto não deu certo. As ocorrências desse equívoco na imprensa estão relatadas na página "A imprensa errou".O que faz uma língua dar certo? Certamente, não existe apenas um fator ou aspecto que possa garantir que uma língua deu certo. Vamos listar alguns e veremos se o esperanto se encaixa no perfil de “língua que não deu certo”.
• Uma língua que deu certo certamente tem uma comunidade que a fale, que a ame, que a proteja contra equívocos distraídos. Nessa comunidade devem existir escritores que escrevam romances, peças de teatro, poesia, contos, crônicas e contos originalmente escritos na sua amada língua. Devem existir também tradutores, editores... e leitores.
O esperanto tem isso?
Sim, tem. Um dos maiores orgulhos dos esperantistas é a sua literatura, com obras originais e muitas traduções das línguas nacionais. Há inclusive traduções da literatura brasileira, como Quincas Berro D’água, de Jorge Amado, e O Alienista e Dom Casmurro, de Machado de Assis. Existem também editoras, algumas bem estruturadas, e o número de leitores sempre vai crescer, garantindo ao esperanto seu lugar ao sol no mundo da literatura.
Visão da economia esperantista:
A Intraespo considera o segmento da industrial editorial um dos mais promissores a curto prazo. O mercado editorial esperantista ainda é muito pequeno, mas o potencial é do tamanho do mundo.
E quanto à defesa do esperanto contra as incompreensões dos formadores de opinião pública, os esperantistas sempre foram muito ativos, embora algumas vezes desorganizados. Mas, isso está mudando, e esse blog e apenas uma frente da batalha de Davi contra o Golias da desinformação.
• Uma língua que deu certo certamente possue jornais e revistas circulando.
O esperanto tem isso?
Sim, tem. A maioria dos periódicos dos esperantistas são publicações amadoras, produzidas por associações esperantistas, mas há iniciativas bem interessantes e profissionais como a revista Monato, editada na Bélgica, que é uma espécie de IstoÉ em esperanto. Vale ressaltar que o primeiro grande empreendedor da economia esperantista foi gráfico alemão, Teo Jung, que se tornou fundador de um jornal que existe até hoje, o Heroldo de Esperanto. Teo Jung viveu desse jornal, e sua saga está registrada na sua autobiografia, publicada em esperanto no Brasil, por um grande editora esperantista brasileira, a Fonto.
Visão da economia esperantista:
A mídia esperantista tem grandes dificuldade de sobrevivência, haja vista a baixa escala atual da economia esperantista, o que leva à falta de anunciantes. Mas, essa situação desfavorável deverá ser superada quando um maior número de empresas começarem a adotar o esperanto como língua global de trabalho e quando o público consumidor esperantófono crescer e precisar ser conquistado pelas empresas e seus produtos e serviços.
• Uma língua que deu certo precisa ter história.
O esperanto tem isso?
Sim, tem. A história do esperanto é emocionante. Tudo começou com o sonho de um médico idealista, na Polônia, que inicia a existência de uma língua planejada, em 1887, e hoje, 120 anos depois, podemos olhar para trás e ver a grande caminhada histórica dos esperantistas, lutando contra e preguiça mental, a indiferença, o escárnio. Esperantistas foram perseguidos em várias ditaduras: Hitler, Salazar e muitos outros, proibiram o esperanto, mas os esperantistas sob esses regimes resistiram. A luta pelo reconhecimento oficial teve um momento culminante em 1954, quando a UNESCO reconheceu o esperanto . Temos também a nossa história da literatura, com os primeiros vôos literários, ainda imaturos, e depois com o aparecimento de escritores de grande qualidade, que nada ficam a dever aos grandes escritores das línguas nacionais.
Enfim, o esperanto tem história, sim.
Visão da economia esperantista:
A história do esperanto terá um ponto de inflexão positiva nesse século, com a eclosão da economia esperantista, que deverá ser o maior fenômeno econômico desse de nossa época.
• Uma língua que deu certo precisa ter música e sistemas de produção cultural
O esperanto tem isso?
Sim, tem. A música sempre esteve presente na cultura esperantista, não só como recurso didático para o estudo da língua, mas também como legítima expressão dos músicos que adotaram o esperanto como língua de trabalho artístico.
Visão da economia esperantista:
A indústria fonográfica esperantista e todo sistema de produção cultural carece de uma estratégia global de produção e distribuição, principalmente nesse tempo em que novos meios de distribuição, pela internet, provocam grandes terremotos nas grandes corporações.
Há uma empresa com grande histórico de produção na Europa, a Vinilkosmo, mas o mercado precisa ser melhor desenvolvido, para que a música em esperanto conquiste o mundo.
• Uma língua que deu certo possui eventos em que ela é usada com regularidade.
O esperanto tem isso?
Sim, tem. Aliás, um dos maiores eventos internacionais do mundo é o Congresso Mundial de Esperanto, realizado todo ano. Chega a reunir em torno de 4000 participantes de quase 100 países, todos falando em esperanto.
Existem eventos menores, internacionais e nacionais, e existem eventos pequenos de todo tipo, organizados pelas organizações locais de esperanto.
Visão da economia esperantista:
A área de eventos está mal explorada, na visão da Intraespo. Falta um maior número de festivais de cultura, de eventos musicais, de shows com bandas tocando em esperanto.
Por outro lado, a organização de eventos internacionais de medicina, de odontologia, economia etc, a organização de eventos empresariais e feiras internacionais, tendo o esperanto como língua de trabalho, será um nicho muito promissor, que deverá virar megatendência a médio prazo, transformando para sempre a experiência ruim daqueles microfones e traduções simultâneas sofríveis. Só quem participou de um evento internacional de esperanto e outro, com duas ou mais línguas, pode avaliar a diferença e entender o potencial desse segmento da economia esperantista.
• Uma língua que deu certo certamente tem que ser usada no comércio.
O esperanto tem isso?
Sim, tem. No início da história do esperanto, o comércio era basicamente de livros, suprimentos de propaganda, como estrelas de metal para lapela, adesivos, camisetas estampadas etc.
Hoje esse comércio ainda existe e deverá crescer e sofisticar muito, mas já existem também operações de importação e exportação com os mais diversos produtos. Há muitos chineses se dedicando a isso, com o esperanto, e no Brasil há uma empresa de comércio exterior de Santa Catarina que o usa há 10 anos com sucesso, ao lado de outros idiomas.
Visão da economia esperantista:
Para a Intraespo o comércio internacional em esperanto é um dos segmentos com potencial de grande expansão imediata, pois não exige grande massa crítica, como o turismo. Basta um importador e um exportador falando em esperanto e coisas acontecem. Com a abertura de nosso escritório em São Paulo e outro em Moscou, iniciaremos a implantação de nossos projetos de desenvolvimento setorial do comércio internacional em esperanto, começando pelo eixo Brasil/Rússia.
• Uma língua que deu possui uma indústria de turismo.
O esperanto tem isso?
Sim, tem. Não é ainda uma coisa muito desorganizada, embora existam algumas iniciativas muito valorosas, como a existência de agências de turismo que trabalham com o esperanto, com destaque para a Polônia, que inclusive possui uma escola internacional de turismo, com cursos em esperanto.
Visão da economia esperantista:
O turismo esperantista, para florescer, vai precisar de mais massa crítica, ou seja, de muita gente envolvida. Guias turísticos falando em esperanto, recepcionistas em hotéis, camareiras, garçons, taxistas, lojistas com vendedores que também falem o esperanto e principalmente turistas, muitos turistas. A Intraespo tem um estratégia muito interessante e realista para desenvolver a indústria do turismo em esperanto.
• Uma língua que deu certo precisa ser ensinada. Precisa ter professores, livros didáticos e escolas.
O esperanto tem isso?
Sim, tem. Nós consideramos o ensino profissional do esperanto o segmento básico, primário, da economia esperantista. O esperantistas nunca se preocuparam muito em ganhar dinheiro com o ensino do esperanto, e assim tinha que ser, na fase da consolidação do esperanto. Existem hoje, aqui e ali, professores que vivem de ensinar esperanto, mas são minoria. O mesmo acontece com compiladores de livros didáticos. As escolas de esperanto em sua esmagadora maioria, são organizações de esperanto sem fins lucrativos, que ofererem cursos de gratuitos, com professores que nada ganham, mas que também muitas vezes deixam a desejar quanto ao nível de conhecimento da língua e preparo pedagógico e didático.
Visão da economia esperantista:
Como segmento primário da economia esperantista, a indústria do ensino do esperanto precisa ser apoiada firmemente pelos governos dos países que queiram se destacar na economia esperantista. A inclusão do ensino do esperanto nas escolas públicas é um grande passo para isso. É pobre demais a postura da mídia e de alguns setores de nossa elite universitária, quando se referem ao projeto de lei do senador Cristovam Buarque, que inclui o ensino esperanto nas escolas públicas. Mas, esse segmento está cheio de oportunidades para professores de línguas, compiladores de material didático, editoras, produtores de material multimídia e escolas de línguas. A Intraespo vai atuar firmemente para desenvolver rapidamente esse segmento, no Brasil e no mundo.
Bem, basta, não? Alguém duvida que o esperanto é uma língua que deu certo? E que vai dar cada mais mais certo daqui para a frente?
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